Novas Perspectivas de Aprendizagem para o Século XXI

Su Verri
9 min readApr 29, 2019

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Comunidade, Liberdade, Unschooling, Aprendizagem Ágil

Cá estou eu novamente, com uma frequência bem menor do que eu gostaria, confesso, aprendendo a me organizar como unschooler, tarefa interminável dessa vida…O meu grande desafio, um desafio que me instiga, que me faz seguir adiante e é objeto do meu trabalho e estudo é encontrar uma vida equilibrada a partir de uma perspectiva da liberdade, do unschooling. Ou seja, como ser livre sem me perder? Como fazer as escolhas certas? Respeitar os tempos orgânicos? Organizar a rotina familiar sob essa perspectiva da liberdade? Como cuidar da minha família, do meu trabalho, da minha saúde, do meu lazer? Quais serão os novos parâmetros de equilíbrio de todas as esferas da vida a partir de um novo paradigma existencial?

Vou explicar melhor… quando começamos (eu, meu marido e meus dois filhos) a repensar o paradigma de nossa própria existência e de nossas relações com as outras pessoas, percebemos que vivemos uma falsa liberdade porque estamos seguindo reproduzindo padrões de comportamento que são totalmente inconscientes para nós. E o objetivo das minhas reflexões e do meu trabalho é que aos poucos essas ações inconscientes gradativamente se tornem conscientes para mim e para minha família e dessa forma eu possa colaborar com o processo de conscientização de outras pessoas.

Ter clareza de nossas escolhas, tomar a decisão certa levando em consideração o que respeita a nossa própria essência e a essência de nossos filhos e além disso, aprender a nos relacionar com todas as pessoas da Terra de forma que possamos contemplar e respeitar a individualidade e a essência de cada uma. Aparentemente isso já é previsto na Constituição e em tratados internacionais, está contemplado na maioria dos Projetos Políticos Pedagógicos Escolares, porém, de maneira prática e relacional, somos mesmo livres e respeitamos a liberdade alheia?

Trabalhar, fazer parte de um processo educativo de aprendizagem, de um coletivo que contemple relações realmente livres e que estabeleça um campo de confiança que permite a entrega e uma profunda transformação nas perspectivas da dimensão da própria vida requer que nos dediquemos a explorar as relações, a experimentar vivências e praticar novos paradigmas de convivência.

O Desdoutorado, grupo de adolescentes que vivem o unschooling ou que desejam experimentar novas perspectivas para a aprendizagem, tem se construído de maneira orgânica, natural e sem cobranças. Começamos com encontros online 1x por semana, recentemente passamos a experimentar encontros 2x por semana, também há um dia da semana de encontro online para mães e pais compartilharem suas questões e organizarem o planejamento coletivo e acompanhamento das atividades do grupo. Além disso temos uma agenda de encontros presenciais em São Paulo e algumas outras cidades que estamos nos programando e buscando meios para ir, encontrar com mais pessoas e vivenciar novas experiências.

Qual o meu papel nesse grupo? Essa também é uma pergunta que tenho me feito há alguns anos sobre o meu trabalho, sobre o que seria uma educadora reinventada, ou uma “des”educadora como eu gosto de me apresentar. Sempre tive certeza de que meu trabalho é com coletivos, com crianças, jovens e pessoas. Por muitos anos a escola era o meu campo de atuação e de certa forma esse convívio social, esse trabalho com coletivos sempre me agradou muito, também vivo em uma comunidade intencional e novamente me vejo envolvida com pessoas, com gestão de pessoas, tanto de maneira acadêmica formal ou como aprendizagem informal, meu caminho sempre foi o de estar com pessoas.

No entanto, aquela figura do mestre, do professor, do detentor da autoridade, do conhecimento, do saber, aos poucos foi se tornando cada vez mais pesada para mim. As carteiras enfileiradas, o silêncio na sala de aula, os questionários, quadro negro, planos de aula e planejamentos estratégicos, tudo começou a parecer uma grande loucura totalmente desnecessária para o desenvolvimento real dos maiores envolvidos no processo, os aprendizes, as crianças em seu processo de desenvolvimento, os jovens com suas necessidades de conhecer o mundo em pleno século XXI. Isso sem falar na maneira de os adultos se relacionarem com as crianças. Violência verbal, humilhação, desprezo, grosseria, castigos, ameaças, cenas diárias de um relacionamento nada saudável, que gera muitas sequelas futuras, coisa que aprendi a ver mais de perto com a Psicopedagogia. Pensem bem que a Psicopedagogia foi criada para lidar com os problemas de ensinagem de um sistema mundial de coerção e padronização que não funciona e precisa de uma outra ciência ou de várias outras para sanar as sequelas que esse sistema causa nas pessoas que passam por ele. É uma situação dramática!

Mas se somos seres humanos e podemos ser donos de nossas próprias vidas e responsáveis por nossas escolhas e ações, por que não transformar nossas práticas e experienciar relações e espaços que sejam acolhedores e amorosos? Por que não podemos pensar em uma forma diferente de viver a vida e poder compartilhar isso com outras pessoas e convidar mais pessoas para fazerem parte disso? É isso que estamos fazendo… tentando viver a vida de maneira leve, descontraída, espontânea e plena. Sem impor nossas escolhas a ninguém e muito menos tentando servir de exemplo para alguém. Estamos tentando exercer nossa liberdade de sermos livres para escolher, perdoem a redundância, mas se fez necessária para o momento.

Nada menos do que a plenitude nos deixa felizes, queremos ajudar as pessoas a sentirem a plenitude, a encontrarem os seus propósitos e a viverem a vida de uma maneira mais feliz e confiante, nelas mesmas e nas relações. Porque o que realmente nos faz felizes e nos sentirmos transformados é estar com pessoas que nos fazem bem, com quem podemos trocar, aprender e crescer, o sentimento de pertencimento é curativo em uma sociedade tão excludente e esse processo de transformação e cura das relações é o que nos move nesse momento.

Voltando ao meu papel nesse grupo… Encontrei a denominação Facilitadora de Aprendizagem, então assim estou aprendendo a me portar. Estar atenta, muito atenta às necessidades, prestar escuta empática e só oferecer minha intervenção ou os meus saberes se for solicitado. Os temas, os acordos, as decisões são totalmente partilhadas, inclusive a participação no grupo também é opcional, ninguém é obrigado a participar. O que eu tenho para oferecer é alguns anos a mais de pesquisa e vivências e encorajar e fazer brilhar os talentos não visualizados nessa sociedade tão imediatista e padronizada, procuro olhar os jovens com outra lente, sob outras perspectivas. O que não sei vou junto aprender, aliás, estou aprendendo muito com esses adolescentes incríveis, cheios de ideias transformadoras, generosidade, acolhimento, autoconhecimento, porém, não estão sendo escutados pela sociedade, estamos vivendo de forma atropelada e nem sequer olhamos para nós mesmos, para nossos filhos.

Equipe de Facilitadoras ALC Nature

E nesse processo de busca de sentido, de significado para nossas práticas, encontramos a Aprendizagem Ágil (Agile Learning) que contempla toda essa visão sobre aprendizagem que descrevi acima e que na minha vida e dos meus filhos têm ajudado a equilibrar o desafio inicial sobre ser livre e ter organização, ou uma vida “produtiva”. Como ser livre para escolher os temas, os tempos de estudo, os espaços de aprendizagem e ao mesmo tempo respeitar as necessidades de cada um? E além disso coordenar as necessidades, tempos e temas de cada envolvido no coletivo? E sem se perder? Através das ferramentas ágeis isso é possível… Não é uma metodologia que nos prende a nada, são ferramentas que nos permitem tomar decisões de maneira compartilhada, clara e de forma que contemple cada pessoa e suas necessidades de ser ouvida, acolhida e respeitada.

Em nosso processo de descoberta e construção coletiva do Desdoutorado, o ALC (Centro de Aprendizagem Ágil) tem vindo como um suporte para atender as nossas necessidades de lidar com novas situações das quais ainda não estamos totalmente acostumados a lidar, pois estamos aprendendo e experimentando juntos. Desde o primeiro instante em que tive contato com o ALC, me encantei e compreendi que é a mesma linguagem que buscamos no Desdoutorado e que tenho buscado em outros coletivos unschoolers, portanto estou fundando o segundo ALC (Centro de Aprendizagem Ágil) do Brasil, chamado ALC Nature.

No momento estou muito focada com o grupo de Adolescentes que está assimilando com muita naturalidade toda a estrutura do ALC, no entanto, não estamos criando expectativas aceleradas, estamos caminhando e respeitando o tempo natural do acontecer…

Por enquanto o ALC Nature está se organizando como rede através de um grupo do Facebook, portanto deixo aqui o convite para visitarem e participarem do grupo acompanhando as ações e agenda. Também tenho a página DigitalMente Livre que abrange a comunidade Unschooler e a Campanha de Financiamento Coletivo Desdoutorado.

Hoje em dia não posso mais compreender o meu trabalho e a minha forma de viver e organizar os coletivos que não seja baseada na confiança, na colaboração e no fortalecimento da rede e o respeito à sua organicidade e inteligência coletiva que funciona a partir de sua própria lógica e não de uma lógica controlada e controladora. Há pelo menos 2 anos tenho seguido o Unschooling como pesquisa, como vivência, como trabalho e vejo que o ALC pode contribuir muito para o fortalecimento da rede Unschooler no Brasil. Como gosto de desafios, estou me desafiando a aproximar a rede ALC e a rede Unschooler brasileira com a finalidade de expandir esses novos conhecimentos a respeito da Aprendizagem, das Relações Humanas e do repensar a Educação tal qual a entendemos hoje. Vale ressaltar que se trata de uma área nova a ser explorada, que utiliza novas tecnologias sociais, contempla uma nova maneira de compreender a aprendizagem estabelece novas estruturas de organização social e dos papéis nos grupos, se utiliza de novas ferramentas.

Sei que temos muito a dialogar e construir em termos de práticas e conteúdos. Isso significa que expandir o nosso entendimento sobre Educação, tal qual a conhecemos no século XX, irá requerer novos paradigmas e novas referências a serem construídas em termos de prática e produção de conhecimento para compreendermos esses novos processos que vêm sendo estabelecidos no Brasil e no mundo no século XXI. Teremos que sair de uma estrutura que compreende apenas as polaridades e contemplar um universo de possibilidades e variadas maneiras de organização e concepção da aprendizagem que não necessariamente estejam vinculadas a uma Escola ou a um Sistema de Ensino. Estamos caminhando para a validação de Comunidades de Aprendizagem, Grupos de Estudos e Organizações Sociais que fazem um trabalho educativo e de desenvolvimento humano, altamente eficaz, no sentido de construir valores, parâmetros e oportunidades de proporcionar às pessoas um viver com mais significado, com mais prazer e qualidade de vida.

Unschooling não tem nada a ver com Homeschooling, inclusive no Brasil especificamente, são pensamentos que têm evoluído em direções opostas com relação ao entendimento sobre o que é a aprendizagem, forma de organização da rotina, objetivos, são perspectivas bem diferentes sobre a aprendizagem e a forma de conduzir esse processo.

Para compreender os novos processos de aprendizagem é preciso considerar a profundidade do tema e buscar um entendimento amplo sobre as inúmeras possibilidades que vêm sendo construídas no Brasil e no mundo.

Me encanta falar sobre isso, estudar esses temas, dialogar e conhecer novas pessoas para expandir a rede. Se você se interessou pelo meu trabalho e gostaria de participar de um encontro ou construir alo junto, estou super aberta para o cocriar nesse novo mundo coletivo.

Para terminar eu gostaria de falar sobre as imagens escolhidas para ilustrar esse texto. São imagens dos nossos encontros ALC e Encontros do Desdoutorado. Acredito que imagens valem mais que mil palavras e nelas acredito conseguir trazer um pouco da atmosfera de um ambiente de aprendizagem rico, criativo e onde as pessoas se sentem elas mesmas.

Para acessar a Campanha do Desdoutorado, comunidade de aprendizagem para adolescentes, acesso o link.

Acompanhe o grupo ALC Nature no Facebook e saiba sobre a agenda de Encontros e Eventos programados.

Através da DigitalMente Livre Conexão Natural também trago materiais e possibilidades de cocriarmos juntos, acompanhe e dê um like lá na página para nos prestigiar.

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Su Verri

Mentoria em Educação Autodirigida; Facilitadora Ágil (ALF); Comunidade de Aprendizagem Autodirigida; Desescolarização/Unschooling;Fundadora do ALC Nature